“Se os Estados Unidos desligarem o GPS, o impacto seria enorme” — essa preocupação ganhou força recentemente, em meio a tensões diplomáticas entre os dois países.
A tecnologia de GPS, além de estar presente em aplicativos como Google Maps e Waze, é fundamental para aeronaves, embarcações, sistemas bancários, monitoramento eletrônico e muitas outras operações críticas. A especulação de que o serviço poderia ser bloqueado para o Brasil levanta uma questão essencial: isso realmente pode acontecer?
Como Funciona o GPS?
O Sistema de Posicionamento Global (GPS, na sigla em inglês) foi desenvolvido pelos Estados Unidos a partir da década de 1950, com objetivos militares. “A intenção inicial era guiar mísseis, localizar tropas e realizar manobras táticas”, lembra um dos especialistas ouvidos.
Em 1978, foi lançado o primeiro satélite operacional. Já nos anos 1990, o sistema passou a ser usado também por civis, como ocorre hoje em todo o mundo. Atualmente, 31 satélites orbitam a Terra transmitindo sinais de rádio com dados de localização e horário.
“Os receptores, como os de celulares, usam pelo menos quatro sinais para calcular com precisão a posição exata no planeta”, explicam os engenheiros.
Os Estados Unidos Podem Desligar o GPS do Brasil?
Especialistas consideram essa possibilidade altamente improvável. “O sinal do GPS é unidirecional, transmitido globalmente como um sinal de TV aberta”, compara o engenheiro Eduardo Tude. Isso significa que ele está disponível para qualquer receptor, em qualquer lugar do mundo, sem controle individualizado por país.
“Bloquear um país específico exigiria alterar a forma de transmissão dos satélites, algo quase inviável tecnicamente”, explica Tude.
Além disso, tentar restringir o Brasil afetaria inevitavelmente regiões vizinhas e até o próprio território norte-americano. Isso reforça o argumento de que o desligamento seletivo seria impraticável.
Mas Interferências São Possíveis?
Sim, há técnicas que podem afetar o funcionamento do GPS em áreas específicas. Uma delas é o jamming, ou interferência, que usa equipamentos para bloquear o sinal dos satélites.
“Isso já foi usado em zonas de guerra, como no Mar Báltico e no Mar Negro”, aponta uma investigação feita em 2024. A Rússia, por exemplo, teria usado esse método para impedir a navegação aérea e afetar drones e mísseis na guerra da Ucrânia.
Outra técnica é o spoofing, ou falsificação, que consiste em enviar sinais GPS falsos para desorientar os receptores. “Essa tática pode enganar dispositivos ao indicar localizações erradas”, diz a engenheira Luísa Santos. Mas, segundo ela, isso se configura como sabotagem, algo incomum em relações diplomáticas.
E Se o GPS For Desligado?
Mesmo em um cenário remoto de desligamento, há alternativas. Entre os sistemas de posicionamento disponíveis estão o GLONASS (Rússia), Galileo (União Europeia) e BeiDou (China).
“Esses sistemas funcionam como o GPS e oferecem acesso livre a qualquer país do mundo”, reforçam os especialistas.
Além disso, muitos equipamentos modernos, como smartphones e aviões, já são compatíveis com múltiplas constelações de satélites. Existem também soluções terrestres como o eLoran, que servem como backup em caso de falha do sistema global.
Conclusão
Apesar das tensões diplomáticas e da especulação recente, a chance de o GPS ser desligado apenas para o Brasil é mínima. “O sistema foi concebido para uso global, e interferir seletivamente nele seria tecnicamente e politicamente complexo”, avaliam os especialistas.
“Você provavelmente não vai precisar resgatar aqueles antigos guias de papel para se localizar. A tecnologia ainda estará ao seu alcance.”