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quinta-feira, agosto 28, 2025
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Só para membros: Ricos da Índia trocam clubes antigos por espaços exclusivos

Uma nova versão moderna dos clubes privados exclusivos surgiu na Índia, impulsionada pelo crescimento do número de novos milionários.

Por décadas, a elite indiana buscou refúgio em clubes privados da era colonial britânica e gymkhanas, espalhados pelos bairros mais nobres das grandes cidades, resorts montanhosos e cidades militares.

O acesso a esses enclaves tipicamente “ingleses” — com seus carregadores de malas, mordomos, interiores em mogno escuro e rígidos códigos de vestimenta — era reservado aos privilegiados: os endinheirados de longa data, como magnatas, altos funcionários, ex-monarcas, políticos ou oficiais das Forças Armadas.

Foi nesses locais que os ricos e poderosos da Índia se reuniram por décadas, construindo capital social em meio a charutos, partidas de squash ou negócios fechados durante rodadas de golfe. Hoje, muitos desses espaços parecem relíquias anacrônicas de uma era passada, enquanto o país tenta se livrar do seu passado colonial.

Com o surgimento de uma nova geração de criadores de riqueza na terceira maior economia da Ásia, uma versão mais moderna e informal dos clubes privados — refletindo as transformações econômicas e demográficas em curso — está ganhando força. É nesses ambientes que os novos ricos se reúnem para socializar e fazer negócios.

A demanda por esses espaços é tão alta que a rede internacional Soho House planeja lançar duas novas unidades em Delhi e no sul de Mumbai nos próximos anos. A primeira unidade — um clube com vista para o mar na famosa praia de Juhu, em Mumbai — foi inaugurada há seis anos e tornou-se um enorme sucesso.

O Soho House começou em Londres nos anos 1990 como uma alternativa aos antiquados clubes de cavalheiros da região de Pall Mall. Foi uma proposta inovadora: um clube mais descontraído para criadores, pensadores e empreendedores criativos que não se sentiam acolhidos pela aristocracia tradicional.

Trinta anos depois, a economia indiana, impulsionada por startups e talentos criativos, gerou uma nova elite — o “nouveau riche” — que representa exatamente o tipo de público ideal para o Soho House.

“O crescimento da nova riqueza jovem na Índia é real. Jovens empreendedores precisam de uma base para se posicionar,” disse Kelly Wardingham, diretora regional da Soho House na Ásia. “Essa nova elite tem necessidades diferentes das dos antigos gymkhanas.”

Diferente dos clubes tradicionais, o Soho House não exclui nem aceita membros com base em herança familiar, status, riqueza ou gênero. Os membros usam o espaço como um refúgio do caos de Mumbai, aproveitando a piscina na cobertura, academia, salas de cinema privadas e uma ampla variedade gastronômica. Além disso, utilizam o clube para se conectar com mentores e investidores, aprender novas habilidades e participar de eventos e seminários.

Reema Maya, uma jovem cineasta, diz que sua associação ao clube em Mumbai — uma cidade onde é difícil encontrar “um canto silencioso em um café lotado” — lhe deu acesso a grandes nomes da indústria cinematográfica que, de outra forma, estariam fora de alcance “sem um legado familiar”.

Por muitos anos, os gymkhanas tradicionais estavam fechados ao meio artístico. O famoso ator Feroz Khan, falecido, chegou a pedir associação a um clube em Mumbai, mas foi educadamente recusado, pois “atores não eram admitidos”.

Khan, surpreso com o esnobismo, teria respondido: “Se tivessem assistido aos meus filmes, saberiam que não sou muito ator mesmo.”

Hoje, o Soho House exibe com orgulho o astro de Bollywood Ali Fazal em sua revista interna.

Além do espírito mais democrático e moderno, há também uma questão de oferta e demanda. A escassez de vagas nos clubes tradicionais — com listas de espera que duram “muitos anos” — não acompanha o crescimento da nova elite composta por empreendedores, artistas e executivos de alto escalão, segundo Ankit Kansal, da Axon Developers.

Esse desequilíbrio levou à criação de mais de duas dezenas de novos clubes exclusivos, incluindo independentes como Quorum e BVLD, além de parcerias com marcas globais como St. Regis e Four Seasons. Pelo menos mais seis devem surgir nos próximos anos, segundo relatório da Axon.

Esse mercado cresce cerca de 10% ao ano. A pandemia da Covid-19 foi um divisor de águas, com os ricos evitando espaços públicos e migrando para ambientes mais privados e seguros.

Mesmo com uma postura mais inclusiva e apoio às artes, literatura e música independente, esses clubes ainda são considerados santuários de luxo moderno, diz a Axon. A adesão continua sendo feita apenas por convite ou indicação, e os custos de associação ultrapassam muitas vezes a renda mensal da maioria dos indianos.

Por exemplo, a anuidade no Soho House gira em torno de 320 mil rúpias indianas (cerca de R$ 20 mil) — valor inacessível para grande parte da população.

A diferença é que agora a seleção baseia-se em conquistas pessoais e potencial futuro, e não mais em pedigree familiar. Uma nova elite autossuficiente substituiu os herdeiros tradicionais — mas o acesso continua distante para a classe média comum.

O aumento dessas associações reflete uma tendência mais ampla do crescimento econômico pós-liberalização da Índia — que se abriu para o mundo e deixou de lado as bases socialistas.

A economia cresceu, mas os mais ricos se beneficiaram desproporcionalmente, fazendo a desigualdade aumentar. É por isso que o mercado de luxo no país está em alta, mesmo com as lojas populares enfrentando queda na demanda, pois a maioria dos indianos continua lutando para comprar o básico.

Mas o número crescente de novos ricos representa uma enorme oportunidade de negócio.

A Índia conta com cerca de 797 mil indivíduos de alta renda, e esse número deve dobrar nos próximos anos. Embora ainda representem uma fração dos 1,4 bilhão de habitantes, são suficientes para sustentar a expansão desses novos “playgrounds” de luxo onde a elite se reúne, faz networking e desfruta do melhor que o dinheiro pode comprar.

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